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publicações de josé manuel teixeira da silva

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parábola óptica
m. álvarez bravo

ver nova página pessoal:

http://josemanuelteixeiradasilva.weebly.com/






.....................................................poesia ....

O Lugar que Muda o Lugar, língua morta, 2013 (aqui)
Anima (com ilustrações de Ana Abreu), língua morta, 2011 (aqui)
As Súbitas Permanências, quasi edições, 2001 (aqui)
Súbito a mão, fac.de letras da univ. do porto, 1983 (aqui)

participação em antologias / obras colectivas:
Cintilações da Sombra 2 , labirinto/núcleo artes e letras fafe, 2014 (aqui)
  Quarto de Hóspedes, língua morta, 2013 (aqui)
EnCantada Coimbra (org. Adosinda P. Torgal e Madalena T. Ferreira), Publ. D. Quixote, 2003 (aqui)
Anthologie de la jeune poésie portugaise (Bacchanales, nº 33),
Maison de la Poésie Rhône-Alpes, 2004  (aqui)

colaboração em revistas:
Cadernos de Literatura, Hífen (aqui) , DiVersos e Falar/Hablar de Poesia


......................................................prosas ....

participação em antologias / obras colectivas:
 Caderno 2, Enfermaria 6, 2014 (aqui)
A Minha Palavra Favorita, Centro Atlântico, 2007 (aqui)

didáctica do português e da literatura:
O Inventor de Jogos / Como Abordar os Media e as NTIC na Aula de Português (em colaboração), Areal Editores, 2003 (aqui)


artigos:
" A Granja de Eça de Queirós" in Boletim da Associação Cultural Amigos de Gaia, nºs. 51 e 52, 2000, 2001





................................................fotografia .... 

exposições:
Sobre as pedras- exposição individual- Solar dos Condes de Resende- Vila Nova de Gaia, 1993
A Flora do Parque de Serralves- exposição colectiva- Fundação de Serralves, 1996



livros:
Ver. 59 anotações fotográficas, ed. autor/Blurb, 2012 (aqui) (e aqui)

 
sequências fotográficas que acompanham antologias organizadas por Adosinda Providência Torgal e Madalena Torgal Ferreira:
Ao Porto- Colectânea de Poesia sobre o Porto, Pub. D. Quixote, 2001 (aqui) (e aqui)
EnCantada Coimbra- Colectânea de Poesia sobre Coimbra, Pub. D. Quixote, 2003 (aqui) (e aqui)


trabalhos na obra
Porto - A Arte do Ferro de Paulo J. S. Cruz, Edições Asa, 1997 (aqui) (e aqui)

colaboração em Falar / Hablar de Poesia

fotografias para capas de livros, revistas e discos










sobre As Súbitas Permanências

Referir-nos-emos, agora, a um livro que parece ser uma estreia literária. Intitula-se As Súbitas Permanências e é seu autor José Manuel Teixeira da Silva. É um livro breve, mas a sua qualidade é manifesta, representando um amadurecimento plenamente conseguido. Leia-se este poema que se intitula "Roma, cemitério protestante": «Ali fica o lugar dos estrangeiros / o inverso jardim anunciado / pelo sopro dos ciprestes, o baque repetido / das folhas dispostas sobre o musgo / Recolhe-se um murmúrio, o nome / do poeta escrito para sempre pela água / Eis a selva delicada, violetas / lírios violentos, um império dos gatos / Retomam o salto primitivo, soltam uma vida / por entre a tepidez terrífica das asas / Como se afundam donzelas em relvados / todo o tempo para as tranças de pedra / as mãos em abandono sobre os seios / pomos lentamente congelados // Chegaram pelo claro vapor da manhã / vaguearam as tardes estiradas pelas praças / pressentem nocturno o suspiro das fontes / o cerco de colunas derrubadas / sabiamente dispersas pelas colinas // e ali alcançam uma vida atrás da outra / as cúpulas mais distantes da cidade» .
Poemas como este servem-se de uma linguagem imagisticamente exacta, rigorosa. Ela conduz-nos à visão essencial de uma realidade que se anuncia e está presente nos poemas, a qual se manifesta de uma maneira explícita através de referências a lugares (desde Roma ou a Ilha de Malta a Londres ou Porto), a presenças que serão as de Keats, Carlos de Oliveira, Bach, Chopin, Caravaggio, Cláudio Carneyro, etc. A linguagem é extremamente depurada- a neve sobre a neve- e a referência a lugares ou nomes, a que acabamos de aludir, é sempre orientada para a interioridade do próprio poema, como se aí se diluíssem, só para que fosse possível encontrar plenas ausências . As referências, que as há (até porque o poeta chega mesmo a falar de uma bátega súbita do real), convergem para uma outra referência que é a do próprio poema. E este encontra nas coisas, naquilo que descreve, uma imediata memória, um exposto segredo, a profundidade a que chega toda a transparência ...

Fernando Guimarães, in Crónica de Poesia , "Entre a expressão única e as vozes múltiplas", Jornal de Letras, Artes e Ideias, nº 818, 6/2/2002
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Paisagem e evocação, no sentido visual e enformativo, enquanto capacidade de fixar epifanias lúdicas, geopoéticas e íntimas, são, a meu ver, as principais referências ou movimentos de ser que caracterizam estes poemas, nos quais o circuito da memória é fundamental: «E depois / eram os meninos do aniki-bobó / no campo longo as / tranças a preto e branco o bolso / do calção dava para a varanda do / rio / entre as ervas da chita o / passarinho totó e a / estrela dos barcos / O comboio, a queda, o túnel, o túnel».
Nesta inter-relação, de espaços prospectivos e de sentimentos vividos, a memória-emoção é sempre passagem, fixação e percurso, para um renascimento contínuo, para os «Voos que de voos se engendrassem / do mais surdo rumor dos dias / velórios sucessivos, a lenha conquistada / tantas outras fugas».
Esta angústia renovada, que advém da fixação de um mundo passado, gerador do tempo presente, se por um lado condiciona ou impele o poeta para o seu abrigo, para o âmago das suas carências, enfim, para o seu circuito de solidão- «esta só minuciosa solidão / no vão breve de espelhos rebatida / o trânsito que vai de face a face»-, de alguma forma lhe vem depois a proporcionar "A Arte da Composição", que é afinal a arte de sobreviver, ou seja: «A estância da harmonia é esta casa dos ventos / o doce mecanismo dos tufões, um nocturno rumor improvisado / Chego-me ao fogo da cozinha, se o frio é assim a pele dos dedos / quando Aurora ilumina a perfeição, digamo-lo, de uma cebola / a aspereza nas pétalas delicadas sob a faca / Persigo os riscos das bátegas, o decisivo curso errático da vida / prelúdios para sempre inacabados, lágrimas apenas verdadeiras».

Ramiro Teixeira, in "Apontamentos da minha estante", suplemento Das Artes, Das Letras, O Primeiro de Janeiro, 20/5/2002



sobre Anima

Preciosa edição, de uma editora que nos reconcilia com o modo puro e desindustrializado de tratar a poesia. Belas imagens, belos poemas de um autor que merece ser lido, desde  As Súbitas Permanências, Quasi edições, 2001.

Inês Lourenço, in Logros Consentidos, logrosconsentidos.blogspot.pt, em 06/12/2011
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Em As Súbitas Permanências, segundo livro de poemas editado por José Manuel Teixeira da Silva, o poeta viaja por espaços mais ou menos definidos, em que as cidades são captadas pela sua visão, os monumentos também, as imagens sempre. Permitam-nos citar a voz autorizada do poeta no poema “Ilha de Malta, o Tempo” incluído nessa publicação: “A frivolidade imensa das viagens/disso se faz o trânsito e a vida”.
E é a vidas em trânsito que o poeta de Anima vai beber os motivos poéticos que hoje nos chamaram a este lugar, de novo enveredando por uma viagem, como se de um migrante se tratasse. Só que, desta vez, o poeta viaja dentro de um espaço-casa que se faz mundo a cada palavra escrita, a cada imagem desvelada. A escrita precipita-se sobre o papel, tal qual a “cesura das coisas” e a “dor” reveladas se aceleram, numa voragem de tempos dolorosos, vividos em “cozinhas negras”, espaços onde aconteciam vidas, as das “batatas”, as das “borboletas” , as das “raparigas”. É certo que, como sugere o primeiro poema, “batatas” e “vida” são vidas que não rimam, ainda que a brancura, que as "raparigas" dolorosamente procuravam, as forçasse a viver, a sobreviver na própria “batata”. Trata-se aqui de uma simbologia do castigo, de uma austera disciplina, como mostra a ilustradora Ana Luísa Abreu, no belíssimo texto que inaugura esta viagem poética: “ As meninas em internamento, com uma disciplina severa, num espaço-tempo estruturado, segmentado, vigiado, transformavam-se, à luz dos valores morais vigentes na instituição, em pessoas humildes, virtuosas e geradoras de proventos”. A palavra “transformação” acompanhará também todo o processo de construção desta escrita comprometida com a luz, ainda que, muitas vezes, circulando na profundidade da sombra. Assim, a batata floresce, esparzindo os seus “olhos” pelo universo, numa permanente busca das notas certas para uma sinfonia de renovação, de purificação. Considerava o disciplinador sistema que um tão prosaico elemento seria o veículo para a renovação moral, espiritual de cada corpo que tocava cada “batata”, num movimento criador de espaços e de tempos.
Neste primeiro poema, “Há nas vidas a vida das batatas”, parece brotar a dor em cada poro de cada criatura que nelas toca, num ritual inevitável de caminho em direcção à luz, a luz daqueles que desenhavam o sistema.
Não sabemos se por acaso, se intencionalmente, a imagem que abre esta obra é a de uma borboleta, geograficamente renascida e a renascer, num processo metamórfico que, a qualquer instante, poderá ser interrompido. Há cortes que irrompem e suspendem essa metamorfose que poderá ter a duração de uma vida, a vida de cada uma das raparigas que povoaram o Corpus Christi, na “surda floração de cada tempo”. Tratar-se-á, talvez, de um tempo cristalizado em cada exemplar de “borboleta”, de “batata”, de “rapariga”. E, já no segundo poema, cruzamo-nos com a segregação profunda e estruturalmente enraizada nos alicerces da casa, desta casa. Fundações criadas com a “nossa pele” ou será antes a pele das “batatas”? Num rito de sangue, suor e lágrimas, a luz permanece encarcerada nos “ferros” que dividem a clausura do espaço e do tempo, tempo vivido com a lentidão própria de quem procura avidamente a luz, mas que, inevitavelmente, padece na sombra. O “silêncio tão pisado / ou os gritos de tachos e talheres” referidos, numa composição ondulante, com os fulgores” das “meninas”, geram um frenético encontro de corpos, que se tocam, encontrando o seu lugar, um lugar nas trevas, ainda que, sempre, com um vislumbre de sol na retina.
No terceiro poema, o poeta animiza a “batata”, mostrando a sua vertente autofágica, num avanço de liberdade apenas sonhada, de libertação quase ansiada. Os seus braços, que domesticaram as “presas”, abrem-se, como que dizendo às “meninas que bordam”: - Vão, parti, ide em direcção à Luz… e elas, as “meninas”, com a sua referencialidade restringida, limitada pelas grades da clausura, conquistam a vida bem viva nas ditas “naturezas mortas” que vão criando.
E avançando nos poemas, conhecemos agora o castigo supremo, pois “descascam-se batatas toda a noite”, numa tortura de “frieiras” que condenam as almas, através do suplício dos corpos. Cada gota de sangue que possa jorrar da “imprecisão dos golpes” será o renascimento, a fenda do tempo por onde perpassará o “dia”, a “janela”, as “cascas nacaradas”, o “rio”, o ouro”. E é assim que, vinda do mais profundo das trevas, renasce a esperança de um dia menos gradeado, menos descascado, que conferirá um lampejo de vida nova a quem tanta casca desbravou!
Continuando num ritmo de tempo avassalador, o poeta encontra na linguagem pictórica, explicitamente, o desenho das “hastes do tempo” que, afinal, se foram desenhando nas “batatas”, colocando em suspenso o próprio tempo, em “tempos que elaboram tempos”. As “meninas perdidas” poderão ser a metáfora da ascensão e da queda de cada um de nós que, no labirinto da arquitectura existencial e numa verticalidade ontológica, nos movemos na perda, no encontro, no reencontro, na conquista, na vitória, na derrota, na vida.
E os “poços”, que acolhem a escuridão, a sombra, as trevas, “encostam as meninas às paredes”, numa assunção de humanidade e com “tantos olhos atentos”, não sabemos se das “meninas”, se das “batatas”, num testemunho de intensidade dos “corações” muito ou pouco “trespassados”. Parecendo esboçar por palavras o desenho das “meninas”, do coração das meninas, o poeta dialoga, uma vez mais e sempre, com as imagens de Ana Luísa Abreu e os seus traços diáfanos e profundamente intensos. As palavras do poeta emergem da densa tessitura, delineada finamente, até ao mais ínfimo pormenor, pela pintora. A imagem de uma, e permitam a ousadia linguística, batata-coração ilumina toda a página dezassete, lançando esgares às palavras ditas até ali, aos “corações trespassados” como se de um encontro inter-artes se tratasse. E é nesta movimentação dialógica, entre o artista da palavra- imagem e a artista da imagem que se faz palavra, que a possibilidade da construção de sentidos humano-arquitectónicos cresce, numa conversa de “olhos”, de “batatas”, de “metamorfoses”, de “meninas”.
Um grande poeta da nossa contemporaneidade, Herberto Helder, num pequeno conto-poema de Os Passos em Volta ["Teoria das Cores"] dá conta da densidade metamórfica de um pintor diante do seu referente (…). O olhar observador do artista de imediato se apercebe das nuances que estavam a acontecer e, assim, o “vermelho”, cor do peixe real, passa a “amarelo”, após uma pequena viagem pelo “preto”. A relação do artista com o real foi metamorfoseada pela “imaginação”, permitindo-se voar pela verdadeira representação, aquela que a varinha de condão mágica metamorfoseia explicitamente. Esta visão do mundo será, certamente, a do pintor, a do poeta, a de quem ouse observar o mundo com os seus próprios olhos. Em Anima, o poeta ousou olhar o mundo do antigo Corpus Christi com um olhar singular, juntando-se ao olhar pictórico da Ana Luísa Abreu.
Voltando aos poemas, em “Íntimos nós da sombra, os corações” deparamo-nos com as fundações de um edifício que se fez vida, a partir das “pedras parideiras/de corpos”, de “corações” que respiram ao ritmo da casa, deixando-se inundar pela “luz” que surge viva, muito viva, “em carne viva”. A casa respira intensamente a vida de cada uma das suas habitantes…
Dando voz à metamorfose, eis que nasce a “borboleta”, “para que se ilumine “a reserva/ da batata” , trazendo consigo a esperança da renovação, da transformação, evoluindo nas suas asas. Malgrado a dor de uma “casa” que grita, invade-nos a “luz”, a certeza de uma saída, a libertação, a distensão de corpos até então contidos. É o partir das coisas, o quebrar das amarras, vislumbre anunciado da “Luz”. Em osmose quase perfeita, “nascem borboletas de asas tão pesadas”, numa emanação de transparência vinda de “despensas do mais antigo negrume”. É que aquelas “borboletas”, antes da metamorfose absoluta, viveram um doloroso processo:

"Borboletas provêm de batatas/ de ranho, baba, extensões difíceis / como as bruxas que surdem das portadas/ trazendo o lume de buracos negros/ e asas trabalhadas pela ferrugem/ se se estendem os dedos de lixívia/ brilhando as chuvas de uma luz arruinada".

O negro pré-metamórfico vai-se desvanecendo, até se deixar eivar pela luz, ainda que essa claridade possa ser fruto dos “dedos de lixívia” que poliram ferozmente o negrume das coisas, o negrume da vida. Numa quase esperança de luz derradeira, absoluta, confrontamo-nos com o desânimo da ruína, “a luz arruinada”. Mas logo pressentimos a permanência dessa mesma Luz, iluminada pelo verbo brilhar, que rege o verso em questão.Num contínuo poético, as “borboletas” continuam a esvoaçar nos poemas e “trazem nas asas fios de humidade”. A liberdade das “borboletas” coabita com a contenção física e moral das habitantes dos “quartos”, vigiadas até pela paisagem envolvente. O percurso purificador avança, a alquimia acontece a cada instante. Num jogo disjuntivo de “luz” e de “sombra”, de “abismo” e de “céu” aproxima-se a metamorfose final. Agora, todos os elementos se conjugam e vemos com nitidez de alma "as batatas ao tempo", as “borboletas douradas”. As “meninas”, essas, continuarão a reinar “em seus tronos de pedra, chapa, lousa”, matérias pouco preciosas para “meninas” tão preciosas! No final, talvez o ouro do rio que se espelha na casa tenha sido o pintor das borboletas. A dúvida permanece, uma certeza porém: o pintor de palavras José Manuel Teixeira da Silva metamorfoseou-se, numa sintonia perfeita, com a poeta de imagens, Ana Luísa Abreu. Os traços de um e de outro fundaram um novo Corpus Christi, criaram novas “meninas”, novas “batatas”, novas “borboletas”, nova “Anima”…

Rosa Mesquita, da apresentação no Coro-Alto do Convento Corpus Christi, em 12/11/2011





sobre O Lugar que Muda o Lugar


Uma palavra como "terra" poderia remeter-nos para noções como as de bucolismo ou de écloga, cujas raízes nos levariam de imediato ao poeta latino Virgílio. A natureza, os lugares onde se pratica a pastorícia, o cultivo dos campos seriam então poeticamente evocados. Mas nem sempre isto aconteceu. Há lugares que são diferentes. E a poesia de hoje não seria alheia a esta diferença. José Manuel Teixeira da Silva, que escreveu um livro intitulado O Lugar Que Muda o Lugar, fala-nos precisamente de um lugar que sugere o seu esvaziamento. Refere-se ao "exacto lugar/em que tu já não estavas", aos pássaros que "pudessem aprender/exíguas asas num ar que se voasse/imensamente escoado de si", ao "vivo esquecimento/assim numa ponte, sobre as águas".
Há neste livro um tom decetivo e a sua escrita apresenta-se linear, quase neutra, onde as imagens se tornam fugitivas (quando se fala em árvores fica apenas a "caligrafia das árvores despidas"), o que concorre para que uma expressão metafórica esteja quase ausente. Mais. Quando Teixeira da Silva se refere num poema à pintura, o que poderia conduzir à écfrase, verifica-se que nesse poema, intitulado "Uma natividade de Giotto", prefere falar das "cores desbotadas". E o que é essa perda da cor? Precisamente a anti-écfrase, a descrição que se torna omissa. Desvela-se, apenas, "algo [que] poderá sempre acontecer/muito perto de nós". É o encontro de um lugar de ausência, porque se "muda o lugar". Mas tal exiguidade tem neste livro um sentido: o do rigor que há numa escrita que se empenha em chegar até nós para nesse rigor encontrar a sua própria nitidez.

Fernando Guimarães, in Crónica de Poesia , "O lugar e a terra", Jornal de Letras, Artes e Ideias, nº 1138, 14/5/2014


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 EFABULAÇÕES PRECISAS: SOBRE «O LUGAR QUE MUDA O LUGAR» DE JOSÉ MANUEL TEIXEIRA DA SILVA

Este livro de poemas de José Manuel Teixeira da Silva enuncia um desejo de nitidez. A evidência das coisas é o menos visível; configura-se o poema como o lugar que muda o lugar. Não vemos as «coisas literais» – talvez as metafóricas, as carregadas de sentidos que obnubilam a visão da coisa em si. Tal como o fotógrafo que tem como função escapar aos clichês da imagem consumível, da desordem quase conatural à fotografia, e por isso «domestica o visível» (Almeida, 1995: 39), impõe uma ordem ao enquadramento através da técnica, assim o poeta deve ordenar. Claro que esse visível excede a técnica que o captou – e capturou. Nesse sentido, é um olhar domesticado que não contesta a soberania daquilo que se dá a ver. De Pessanha, o autor recolhe uma lição: sob o simbólico há um referente que se perdeu de vista, referente esse constituído pela multiplicidade de «seixinhos, róseos detritos», e não pela unidade que a história de «mar» convoca. O mais difícil é ver objectivamente, impondo uma ordem à tentação da deriva do olhar. Deverá o poeta, que se pretende objectivo, dominar a sua sujectividade, sem contudo a neutralizar (doutra forma, como haveria poesia? Ou fotografia de autor?). A poesia é o suporte onde a matéria se inscreverá. E não apenas: também o suporte onde outras artes se vêm inscrever, a poesia como obra e simultaneamente parergon. Deixar falar o mundo, aprender, consentindo, com ele – e, porque não, com o ele ser irreparável: «consentir / que os olhos possam nascer com o mundo» (p. 32). Por outro lado, a própria fotografia, enquanto arte teoricamente mais próxima do real, mais objectiva, ao converter o próprio tempo em espaço, ao territorializar, é espaço de uma errância subjectiva, narcísica, do sujeito que por ela efabula. Isto é, porventura contra-intuitivamente, a fotografia torna-se mais subjectiva, enquanto a poesia faz um caminho no sentido da objectividade. Ambas, contudo, partilham dois aspectos: a concentração, isto é, a capacidade de dizerem muito com poucos elementos, e a transfiguração, a capacidade de tornarem o mesmo num outro; ou seja, o lugar, no lugar. Este caminho passa, como sucedia também em Sophia de Mello Breyner, pela nomeação, por encontrar o nome que acerte no alvo, na essência que nos torne evidentes as coisas. O processo de elaboração do poema, como se supõe, é paciente. Já alcançar-se a evidentia depende, como no poema em questão, da enumeração.

 
O LUGAR QUE MUDA O LUGAR

Dias e dias em que olhamos as margens
a simbólica, real escorrência
e trazes no sopro do ar, neste exacto ar
os versos que vêm e vão de oriente a oriente

Assim batam nos olhos as coisas literais
o lugar em que o lugar muda o lugar
e explica o mar maresias de si para si
o peso do sol e o peso da lua

A água na distinta água arrasta
os conhecidos seixinhos, róseos detritos
carcaças de aves e petróleo que cheira
como cheiram alegorias do mal

Dias para alcançar o fim da terra
ver aparecer, ver desaparecer
essa impecável figura peregrina 
e os nomes próximos de areias e rochedos
cabedelo, pedra davra, samagaio
perdida evidência entre marés       (p. 13)


 Chamar a estes textos poesia talvez não seja o mais preciso; «geo-poesia», termo que colho da leitura de Teoria da Viagem, de Michel Onfray, sê-lo-á mais. O poeta capta o ser do lugar, configurando-se o poema como «escrita da terra» (Onfray, 2009: 112), apreensão do sensível que a constitui. Quem viaja encontra-se mais susceptível do que habitualmente, por exposição àquilo que desconhece. Por isso, a experiência do viajante é intensa: o corpo desgasta-se, a exasperação instala-se com mais frequência. Contudo, uma viagem não é apenas um conjunto de movimentos, visões, espaços, sensações digerido aos solavancos. Nesse caos, o olhar paciente vislumbra os momentos curtos mas ontologicamente densos justificativos da viagem. Nos espaços percorridos, o poeta, como um predador, demora o olhar no que deseja – e eis a epifania. Não raro – pouco avulta, «quase nada» («Capela dos Ossos em Lagos», p. 9); o vazio que já transportávamos (Onfray, 2009: 27). Mais tarde, dar-se-á o trabalho sobre as lembranças, reorganizando-as, convertendo-as numa narrativa, domesticando o fluxo sensorial que outrora era informe, forjando-se, assim, a memória (tarefa inconclusa por natureza, como é referido no poema «Memória descritiva de uma casa na Trofa»: «Não é certo que se saiba da saída / ou de um fim para a memória», p. 47). O trabalho poético é um exercício de concentração do informe em algumas imagens incandescentes – uma aprendizagem do devir. No fundo, do que sobra de uma viagem: meia dúzia de pontos cardeais que nos orientam no espaço e no tempo da nossa existência. Alguns dos poemas breves de José Manuel Teixeira da Silva ilustram-no (outro exemplo ainda seria «Benavente, algumas questões», pp. 44-45). Abandono da descrição minuciosa, que pouco fiel seria à rarefacção da memória («obras de conservação ou de restauro»). Diga-se ainda que espaços como a Capela dos Ossos, em Lagos, são constituídos por estratos de tempo, a que se junta um outro, aquele que motivou a elaboração do poema. Os poemas serão, também eles, resultado da justaposição de tempos e histórias.

 CAPELA DOS OSSOS EM LAGOS

É um anexo da morada branca
para lá da sucessão das naves
Em rigor, errámos apenas de transparência
em transparência, até às cúpulas quebradas de cristal
Há mudanças de horários, atrasos nos semáforos
uma ou outra metáfora
ondulações, voos espaçados
Recomeçaram obras de conservação ou de restauro
e assim se adiam as visitas
O estilo é gracioso, com ossinhos delicados
simetrias que o acaso desenhou
para quase nada
e só o pensamento agora edificou
Pendem as maçãs de ouro, no fundo do jardim
como se fossem já maduras

Ampliações e reconstruções
os nomes que imitam, como sempre, a natureza
estragos causados por um terramoto antigo
a imagem de uma santa dando à costa num caixão
e que alguém vai recolher, após naufrágio

Lento, o labor do sal e da luz nessa capela       (p. 9)

 A noção de espaço geográfico estende-se, deve advertir-se, a fotografias, como já dito, mas também a xilogravuras, a documentários, a filmes, a tratados de arquitectura, a quadros, a textos filosóficos, científicos, a outros poemas – aos espaços por onde passa o poeta. O lugar mudado é a essência do lugar. A poesia é a torção que a ensina, que traz as coisas à sua literalidade. No fundo, a poesia deve ser um testemunho da passagem humana pelo mundo (afim dos deixados por Adèle H. ou por W. Beckford, de que dois poemas dão conta). A errância acontece não só no espaço como nos textos, portanto. O exercício ecfrástico não será a representação técnica, assente na verosimilhança, com meios diferentes, antes a errância por determinados detalhes, que logo se abandonam quando o sujeito se descobre já – por fim? – em si mesmo. (O todo consola e paralisa, o desejo é metonímico). Nesse sentido, interpretar é sempre um diálogo, receber e dar, expor-se às próprias fantasias e excursos, ao outro de si mesmo. Como sucede na fotografia de Álvarez Bravo, a poesia revela o que usualmente está oculto; o contracampo e o fora de campo da fotografia, esses, são parcialmente revelados pelo poema:

 MULHER EM FOTOGRAFIA DE ÁLVAREZ BRAVO

Reparem como estou vestida
pelo sol mexicano

Fui, desta vez, o ser degolado
espantaram-me o cuidado do golpe
e a ternura implacável

Devolvo-te em salva brilhante
os olhos desejosos de mim
toma-os, com a melhor dedicatória

Dançarei em redor dos salões
soturnos a que ficas condenado
mulher que acolhe visões e as deixa
desnudadas de si mesmas

Um triângulo de ouro escurecido
correspondências interrompidas
pupilas, mamilos, coisas visíveis
que também espreitam o mundo       (p. 40)

 Olhar predador, não necessariamente olhar veloz. Olhar lento, demorado – paciente. A revelação da fotografia acontece também no poema, que exibe, para além do que lá está, o que lá não está – os motivos da relação entre os elementos que compõem a fotografia, a relação entre fotografia e contemplador (Almeida, 1995: 42). A fotografia é uma arte, de resto, que pede uma fruição individual, solitária. Talvez pela sua ‘natureza’ reprodutível, uma vez que não é prático – nem porventura estético – mostrar os negativos (idem: 33). No caso desta arte, é a reprodutibilidade que lhe assegura a aura. As recepções colectivas de arte fotográfica, em exposições, são invariavelmente tristes, porque o contemplador perde o espaço e a oportunidade para errar pelas fotografias. Como é sabido, os meios técnicos possibilitaram não só a produção como a recepção individual de obras de arte (literatura, cinema, pintura, fotografia...). Em consequência, emanciparam-se as fantasias individuais e proliferaram as leituras «ab-errantes» (no sentido em que estão todas erradas e em que atestam uma errância, Derrida dixit). A leitura destas fotografias é um movimento afim daquele que o flâneur realiza em viagem.

 SALA DE ESTAR ENVIDRAÇADA SOBRE A CIDADE
[a partir de uma fotografia de Inês d’Orey]

Acerca do problema das salas de estar
da minuciosa e necessária decoração
como habitá-las, onde dispor as cadeiras
a que distância dos dardos de luz
do chão com altas concentrações de chão

Em qualquer lugar somos os hóspedes
colocas a questão de onde pernoitar
do recheio das malas, como dispor
digamos, as simples camisas
que sequência para as fotografias panorâmicas
e os grandes, grandes planos

A cidade é um brinquedo perigoso
deixa-nos recuar, depois selar
os olhos, e fica o trânsito
cuidadoso e sereno
Admite a paixão da ordem
simetrias que doem
e coisas que dispomos de viés
para que se afastem uma vez mais

Só depois oferece o abismo
e um último fulgor
no vidro, digamos, um pouco fosco
do nosso olhar       (p. 35)

 Este poema vai ao encontro daquilo que dizíamos acima. Tal como a sequência intitulada «Três fotografias, anos 50» (pp. 37-39). As fotografias são terreno para uma efabulação, algumas vezes narcísica. No poema acima, a fotografia de Inês d’Orey permitirá uma reflexão sobre as casas, que também perpassa outros poemas como «Coisas tocadas no escuro», «Memória descritiva de uma casa na Trofa» ou «Breves instruções para abandonar uma casa». Tema caro a poetas como Herberto Helder, Ruy Belo ou Manuel António Pina. Este problema da habitação é aqui colocado, quando a casa parece figurar como espaço que protege da cidade ameaçadora, que se insinua ao fundo da fotografia. Resolver problemas é, como a etimologia ensina, arrumar objectos (Flusser, 2010: 57). Um objecto é um obstáculo que foi «lançado» no nosso caminho (em latim, obiectum, em grego, probléma). A casa protege da cidade, dos «dardos de luz», coloca camisas, malas e demais objectos em sítios que tornem transitável – habitável – um espaço. Dispomos as coisas de modo que se afastem. A cidade consiste na arrumação de problemas, exprime uma «paixão da ordem». A cidade foi humanizada – e dói sobretudo à natureza. Mas também a nós, pois «a casa é a ruína da casa», como escreveu Manuel António Pina, protege-nos mas distancia-nos da cidade –engendrando o nosso olhar fosco.
A poesia de José Manuel Teixeira da Silva torna-se, em dados momentos, comovente, concedendo atenção ao que é precário, ao que se arruína. Por exemplo, um poema dedicado «A um cedro que foi abatido no jardim». A poesia devém menor, procura o sensível do que não tem voz para aplacar o seu sofrimento. Cedro abatido que esconde um ensinamento: o da irremissível queda. Os dias desmoronam-se, e nós com eles, caindo desamparados, arrastados pelo seu fluxo absurdo. A nossa «ruína» é «inteira». Esta queda do cedro, contudo, daria aos pássaros «exíguas asas», assim eles aproveitassem a queda dos ramos para se projectarem para o infinito. Aos humanos resta o pavor de uma «ferida viva» demasiado ostensiva, a partir da qual pouco poderão aprender. Resta porventura a «paixão da ordem», lembremo-lo, o trabalho humano criador, que empilha o cedro em «toros», numa imitação da «regular disposição das plantas». Este exercício doméstico esconde uma violência exercida sobre o mundo natural. A técnica alicerça-se nela, para resolver problemas. Apesar disso, quando a noite vem, a natureza assombra novamente a casa com os seus «braços decepados», ameaçando e dizendo da precariedade dos nossos «passos transparentes», imperceptíveis – insignificantes.

 A UM CEDRO QUE FOI ABATIDO NO JARDIM

Só o fragor da queda nos prepara
para o detido correr dos dias

O grande sopro do vento
entre os ramos e depois outros ramos
tornou-se toros empilhados
a regular disposição das plantas

Como se pássaros pudessem aprender
exíguas asas num ar que se voasse
imensamente escoado de si

Toda a tarde o perfume da ferida viva
se deixou respirar pelos gatos do jardim
Talvez um dia seja também nossa
a obscura sabedoria das toupeiras
atentas ao derradeiro furor das raízes

Relâmpagos sombrios da lâmina
são o novo rilhar do tronco às tempestades
balanços perigosos das rajadas
ou os puxões da última corda
a que vai guiando a ruína inteira

É pela noite que tudo regressa
galhos de sombras e depois outras sombras
insistindo nos vidros da casa
Alastra então a floresta de braços decepados
para que nela percamos
nossos passos transparentes       (pp. 20-21)

 O mesmo desamparo é expresso noutro poema, onde homens vão «de corredor em corredor / até à porta que seja a única». Seguram a sua vida com dificuldade, mantêm viva a frágil chama de uma vela, apesar do vento que a assola. Este sofrimento de quem encontrará a última porta encontra no poema voz que o diga. Doentes envoltos em nuvens de tempo, revendo os bons momentos, criando imagens que atenuem o estertor que os envolve. O poeta, vemo-lo, vê para além do que vê, o lugar que o lugar esconde. Efabula a partir do desamparo dos «pacientes» (porque esperam, numa espécie de não-lugar entre a vida e a morte, e porque estão doentes). Circundados por nuvens – o tiro fulminante da memória – que lhes impõe uma pose alheada, os «pacientes» acalmam-se noutras imagens com «planícies e pátios sossegados», com «bulício», até, embora de outra natureza, de uma procura alegre, a da vida, não aquele que o hospital conhece, sem rumo, desesperado e mesmo desesperançado. As portas dos elevadores que se abrem trazem alguma esperança; trá-la, também, o sabermos a vida «incompleta». Quando não reactive, justamente, o desejo diminuído que os olhares dirigidos a «coisas desamparadas» denunciam.

 HOSPITAIS, NUVENS, ELEVADORES

São pacientes, perguntam
como erguer, sustentar ali a vida
conduzi-la de corredor em corredor
até à porta que seja a única
Fulminados de memória
perdem-se entre as nuvens
que cercam a casa
e ocupam as janelas, uma a uma

Sombrias chegaram, muito pela tarde

elaboram tempestades do lugar
trazem planícies e pátios sossegados
o bulício do mundo propriamente dito
todos os dias em que viram o mar

São os que levam consigo

delgados fios de soro
acolhem essa espécie de ouro transparente
e reparam em coisas desfasadas
cadeiras vazias, posições de conversa

A vida morre incompleta e renasce várias vezes

assoma breve no acaso de elevadores
como se houvesse um aceno secreto
quando se abrem as portas
e muito depressa se fecham 
     (p.28)

Num outro ponto queria tocar, antes do fim.  Em «Rubato», mais propriamente. A vida é incompleta, há uma descoincidência e um desencontro irresolúveis entre nós e as coisas, entre nós e os outros, entre nós e nós: «chegamos / um pouco tarde, ou algo cedo». Versos que parecem trazer à colação outros tantos de Manuel António Pina. Mas não só: também me evocam Chico Buarque. Vamos por partes: a condição do poeta é a de roubador, como Eliot dizia serem os poetas fortes. Hoje, resta ao poeta roubar; o sistema literário está marcado pela entropia e o roubo é a tartamudez possível. Nesse sentido, parece que o poeta chegou demasiado tarde, e os textos emperram, possuindo o sabor do já-dito. A tradição é um acervo de readymades, um fundo de latência (Diogo, 1997). Mas o poeta também é aquele que chegou demasiado cedo, parecendo ser este o tempo de uma transição para outra coisa, que não se pode saber bem o que é – menos saber se é ela que é linda. Tudo bem, parece acertado dizer inclusivamente que nos foi dado viver uma espécie de novo Presencismo, até agora sem fim visível. Porém é possível ler o poema num outro sentido, retomando a ideia que abriu este parágrafo. Fala-se de uma mulher, da luz que ela emite, de uma desatenção aparente dela que é presença absoluta, ligação magnética às coisas que a rodeiam e respeitam a sua presença. Curioso, neste e noutros poemas, como a pausa imposta pela cesura torna redundante a vírgula, o que amplifica a ambiguidade dos versos. Reduzir a pontuação para possibilitar o máximo de sentidos, como o formulou Ruy Belo: «poderíamos falar da qualidade musical / da luz que iluminas». Afinal, um poema, uma música, modos rigorosos de olvidar «lençóis» e demais coisas comezinhas, de ir além da biografia, de roubar tempo, fazendo-o espraiar-se por palavras. Tal como Chico Buarque fez em Chico, o seu último álbum, de 2011 – particularmente, em «Rubato». Digo-o correndo o risco de efabular, de forma relativamente imprecisa.

 RUBATO

Se pareces desatenta
é porque em tudo habitas

Círculo simples das coisas que te pertencem
o ar que deixas deslocar-se sensível
e assim adormece

Poderíamos falar da qualidade musical
da luz que iluminas, do modo rigoroso
como esqueces lençóis
que vemos viverem contigo

Alguém escolherá uma palavra
por exemplo, rubato, chegamos
um pouco tarde ou algo cedo
e esse será apenas
um nome difícil para a vida       (p. 41)


 BIBLIOMUSICOGRAFIA

ALMEIDA, Bernardo Pinto de (1995), Imagem da fotografia, Lisboa, Assírio & Alvim
BUARQUE, Chico de (2011), «Rubato», Chico, Biscoito Fino, CD-Audio
DIOGO, Américo António Lindeza (1997), Modernismo, readymade. Notícias das trincheiras, s/l, Cadernos do Povo – Ensaio
FLUSSER, Vilém (2010), Uma filosofia do design. A forma das coisas, Lisboa, Relógio d’Água
ONFRAY, Michel (2009), Teoria da viagem. Uma poética da Geografia, Lisboa, Quetzal
SILVA, José Manuel Teixeira (2013), O lugar que muda o lugar, Lisboa, Língua Morta


Pedro Meneses, in Crueza Bruta
(também publicado em O Melhor Amigo